Depois de matear solito
Na madrugada vazia
Chega até arrepiar o pêlo
Ao ouvir o vento que assovia
Dando rédea ao pensamento
Na ânsia das campereadas
No galpão enfumaçado
As minhas traias penduradas
Num escarceio de crinas
O pingo na estrebaria
Não adianta negar o estribo
Pra manhã que tá tordilha
Assim é a lida de campo
Não precisa de espora
Começa ao raiar do dia
E pra voltar nunca tem hora
Campeiro, peão de estância
Que não tem nenhum achego
Lá no fundo da querência
Tem a alma nos pelegos
Meu verso é estouro de tropa
Sem rumo no corredor
Atravessando fronteiras
No flete do domador
Depois da lida de campeira
Cansado mas satisfeito
Na pinga eu dou um tombo
Pra vê se durmo direito
A noite chega e se cala
Vem a lua e adormece
Na tarimba eu me deito
E para Deus rezo uma prece
Meus sonhos são pirilampos
Vagando pelas canhadas
Recuerdos que não se calam
Na memória injustiçada
Sentimentos campesinos
Trançados de couro cru
Que renascem a cada dia
No peito deste xirú
Campeiro, peão de estância
Que não tem nenhum achego
Lá no fundo da querência
Tem a alma nos pelegos
Meu verso é estouro de tropa
Sem rumo no corredor
Atravessando fronteiras
No flete do domador