Estou lembrando do tempo de boiadeiro
Por esse chão brasileiro
Muita tropa conduzi
Era tão lindo
Junto dos meus companheiros
Valentes homens trecheiros
Que tempo bom que vivi
Muito me orgulho
Das batalhas que enfrentei
Todas eles superei
E o tempo me trouxe até aqui
Hoje me veio num tinido de memória
Belos resquícios da história
Forte emoção eu senti
Vinha o Lourenço o berrante repicando
E o gado acompanhando
Enchendo a estrada de poeira
E ao passar pelo povoado sempre tinha
Alguma linda mocinha
Abanando bem faceira
Até pensei em um dia ficar ali
Dessa lida desistir
Ter esposa e ser marido
Porém lembrei
Que boiadeiro é meu destino
E deixar de ser teatino
É coisa que não faz sentido
Eu tenho ainda um pedaço do jibão
Que ganhei do meu patrão
Na cidade de Uberaba
Me disse moço, aproveite cada momento
O tempo passa igual ao vento
E um dia tudo acaba
Naquela hora pensei ser só uma tolice
Mas hoje eu vejo o quanto
Era certo o que ele disse
Passou o tempo
E há muito tempo parei
Certo dia me encontrei
No cançasso da velhice
O meu cavalo por nome de tempestade
Também sofre de saudade
De cortar léguas de estrada
Relincha triste
Também com seu passo lento
Já foi ligeiro igual ao vento
Valente na dispatada
Junto ao seu dono
Praticou tanta prueza
E hoje jogado à tristeza
Sem esperança de nada
Só mesmo em sonho
Ainda tocamo a boiada
Parte falada
E nessas noites que sonho
Com o tempo que fui feliz
Lembro das coisas que fiz
Que saudade passo a sentir
A nostalgia me sufoca
E chego a acordar gritando
Toca esse berrante, toca
Toca que eu quero ouvir