Escutei na nascente do rio
A certeza crescente do frio
Do inverno, que chegava
De repente me enchi de vazio
Na velocidade anil da corrente
Que desaguava
Eu estava só
Eu estava só
Escutei a canção do corixo
Cantada por homem, por bicho
Era certo, que eu sonhava
Só pensava em mudar daqui
Pra São Paulo ou pra Paris
Vida nova, desejada
Pra não ficar tão só
Não ficar tão só
Na janela que eu nunca abria
O sol cinza da desalegria
Tão cedo, despertava
E o morno café pra lutar
Não servia nem pra acordar
A não ser do sonho, que se sonhava
Não estava só
Mas estava só
Só o solitário suave, soando
O som do silêncio insensato ecoando no ar
E eu continuo só
O sol serviçal da cidade soprando
cigarro, sapato, certeza mandando matar
E eu continuo só
Permaneço só
Permaneço só
aahh!