Quando o catre me devolveu p'ro dia
Todo em volta parecia renascer
Amanunciando uma saudade das buenas
Dessas que se carrega sem doer.
No ar vinha um cheiro de mato
Molhado de sereno ou chuva
E uma ?fumacita? azulada
Furava a copa da timbaúva.
Ao longe um grito de quero-quero
Mais perto a dança do beija-flor
Trançando macegas na quincha
Por certo um ninho de amor.
Corruíras pareciam negacear
Pelo buraco da tronqueira
E as abelhas beijavam pontos claros
Na clorofila das laranjeiras.
Era a Primavera, n'um ?Ho de casa?
Traduzindo em cores seu belo semblante
E na saudade boa que eu tinha
Me vinham primaveras de antes.
No treval o viço do cavalo
fazendo carga na eguada
que de orelha murcha coiceavam
N'uma raiva mal disfarçada.
Um touro rondava aos domingos
D'um alambrado incapaz de detê-lo
Quando fazia a terra do casco
Acariciar a seda do pelo.
Por isso um verso novo
Saiu a cavalo n'uma melodia
Era tempo de renascimento,
E a alma doce não falhou a cria.