[Ana Bacalhau]
O meu coração é um viajante
Que se entrega num instante
Por aí aonde for
Acha que sabe bem o que eu preciso
Prende-se a qualquer sorriso
Sem motivos de maior
O meu coração é inocente
Pensa que a vida é um mar de rosas
Mas eu que vi espinhos em toda a gente
Afasto essas certezas duvidosas
[José Rebola]
O meu coração é um bicho muito estranho
Que se esconde e não responde a quem chamei
Alérgico ao exterior vive na toca
Onde se esconde e sufoca por não ver entrar o ar
O meu coração vive trancado
Diz-se que atirou a chave ao mar
E eu que a procurei por todo o lado
Só me resta assim continuar
[José Rebola & Ana Bacalhau]
Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se ouvir que sim tu diz que não
Eu cá vou bem sem coração
Entre o morrer de amor e viver nesta prisão
Coração louco
Não me imponhas o teu vício
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrifício
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por aí
Encontras outro coração p'ra ti
Já encontraste?
Demoras muito ou quê?
O meu coração é uma criança
Ansiosa pela dança de quem lhe estender a mão
Mas este é caprichoso e corrosivo
Analista compulsivo que não chega à conclusão
O meu coração segue as novelas
Jubila com as falas das atrizes
O meu carrega histórias de mazelas
E afasta-se desses finais felizes
Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se ouvir que sim tu diz que não
Eu cá vou bem sem coração
Entre o morrer de amor e viver nesta prisão
Coração louco
Não me imponhas o teu vício
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrifício
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por aí
Encontras outro coração p'ra ti
Falei primeiro a bem por ser assunto de respeito
Mas não me deu ouvidos perseguiu naquele jeito
Mudei para as ameaças
Tentei que usasse a razão
Mas é palavra estranha pro meu pobre coração
Farta desses maus tratos fiz as malas e parti
E logo te encontrei com o mesmo mal de que eu sofri
A mesma frustração
A mesma pose o mesmo olhar
E em teu toque senti no meu corpo a trupulsar
Juntos rimos de tudo
Só chorámos nas novelas
Fingimos ser crianças e dançámos como elas
Perdemos noite e dia entre histórias e canções
Juntámos nomes, gostos e moradas
E quase sem dar por nada
Encontrámos corações
Coração triste
Não me arrastes em teu passo
Meu corpo insiste em decidir o que faço
Se ouvir que sim tu diz que não
Eu cá vou bem sem coração
Entre o morrer de amor e viver nesta prisão
Coração louco
Não me imponhas o teu vício
Que a pouco e pouco vou cedendo ao sacrifício
É que eu sei bem que se acordares
E procurares por aí
Encontras outro coração p'ra ti
-Encontra, encontras
-Corações bons era antigamente
-Vais ver que encontras
-Já não há disso
-Ainda há
-É tudo modernices
-Procura bem
-De água e de sabão e pagar em dez meses
-Vai à feira da Ladra dos corações
-Não tem essência
-Tem, tem
-Não tem estrutura
-Vais ver que tem
-Não são tenazes
-Arrisca
-Nã presta
-Ah presta