Eu sô um caboclo forgado
Criado na serrania
Eu não sô muito letrado
Dá pra minha serventia
Argum dinheiro guardado
Cavalo pra montaria
O meu cachorro ensinado
E as ceva pra pescaria
À tarde, fim da jornada
Cabocla me serve a janta
Levanto de madrugada
Na hora que o galo canta
Eu vô tratando a porcada
Aurora também levanta
Vejo a campina orvaiada
Vô cuidá da minha planta
Caboclo trabaiadô
Necessidade não passa
Rezo pra Nosso Sinhô
E já recebo uma graça
Dinheiro nunca farto
Pro meu negócio na praça
Sei disfarçá minha dô
Quando a saudade me abraça
Eu só vô no povoado
Ai, no fim de cada mês
Ansim mesmo eu paro pouco
Na venda que eu sô freguês
Eu tomo minha pinguinha
E pago a compra que eu fez
Alembro da caboclinha
Vorto pra roça outra vez
Não vô morar na cidade
Não é questão que eu não possa
Sou caboclo sem vaidade
Nasci pra vivê na roça
Eu tenho meu alazão
A cabocla na paioça
Eu gosto do meu sertão
E tudo que é coisa nossa